Crédito abundante não chega às agroindústrias por falta de qualificação
O Fórum Democrático de Desenvolvimento Regional promoveu na quarta-feira (07), no Espaço da Convergência, audiência pública para tratar da agroindústria familiar. Durante a audiência, o superintendente federal da Agricultura no RS, Francisco Signor, informou que a disponibilidade de crédito para a agroindústria é grande, porém, os produtores não conseguem acesso às verbas devido ao não cumprimento de requisitos de qualificação, principalmente no que se refere a higiene e sanidade. Para ele, esse é o principal empecilho para a efetiva implantação do Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte (Susaf) e do Sistema Único de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa).
Signor também afirmou que, nos próximos dez anos, o aumento nas exportações de carne de frango será maior do que toda a exportação atual de carne bovina. Este seria o setor em maior crescimento na agroindústria. Ele destacou que a carne é o principal produto agroindustrial do Estado, representando entre 14% e 19% das unidades em funcionamento.
O superintendente afirmou que, além da qualificação das agroindústrias, o Estado tem várias necessidades, entre elas a ampliação da produção na época de inverno, o fim do pousio, a diversificação das áreas de arroz e a questão da plantação indiscriminada de hortifrutigranjeiros.
Importância da agricultura familiar
A vice-coordenadora do Grupo Executivo de Acompanhamento de Debates (Gead) Cadeias Produtivas e APLs, Márcia Farias da Silva, destacou a grande participação da agricultura familiar na produção de alimentos. No caso da mandioca, por exemplo, o índice de propriedades familiares é de 87%. Ela informou que o rendimento mensal rural na Região Sul é de R$ 720 para a população economicamente ativa, conforme dados de 2009. Também lembrou a participação desse tipo de agricultura no fornecimento de matéria-prima para o biodiesel, que em 2010 foi de 26,2%. Márcia enfatizou algumas questões em torno do assunto, como a situação do minifúndio, o novo código florestal e a inserção das propriedades com fumo no bioma Pampa.
Criação da RS Parcerias
O professor e economista Tirone Michelin, que coordenou a audiência, afirmou que o Estado já teve um PIB igual ao do Chile, mas hoje tem apenas o equivalente a 30%. “Será que isso é incompetência da nossa geração?”, questionou. “Aqueles que fizeram o Estado estão morrendo, e será que os filhos não estão dando conta?”, disse. A seguir, Michelin voltou a falar sobre a proposta de criação da empresa RS Parcerias, que contaria com um capital formado por 10% do total de créditos a receber, equivalente hoje a R$ 4 bilhões. Segundo ele, esse tipo de recurso geralmente fica num “limbo contábil” e acaba não sendo utilizado. “Esse dinheiro pode servir para encostar num empreendimento viável e atuar como garantia”, afirmou. A empresa seria uma holding destinada a fazer parcerias com o setor produtivo. Michelin frisou que uma empresa nesses moldes existe em Santa Catarina e atua com sucesso. A ideia é de que a estatal fosse uma espécie de braço empreendedor do poder público.
Fumo
O gerente de Assuntos Corporativos da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Marco Antônio Dornelles, informou que existem mais de 80 mil famílias gaúchas trabalhando na fumicultura e que uma das diretrizes da entidade é incentivar os agricultores a produzir para a subsistência e diversificar a produção. Uma das alternativas que está surgindo é o tabaco energético, que serve para a produção de biodiesel, óleo e ração. Segundo Dornelles, 43,7% dos empreendimentos relacionados à produção de fumo não estão legalizados, e a entidade trabalha para mudar essa situação. Quanto à produção, ele explicou que o principal gargalo é a mão-de-obra.
Excesso de exigências
O engenheiro Jeferson Ferreira, do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Sul (Crea-RS), afirmou que são muito grandes as dificuldades impostas pelas normativas a serem cumpridas para a expedição das licenças de funcionamento. Como exemplo, citou a indústria do mel em Encruzilhada, que levou cinco anos para se consolidar. Ele sugeriu que haja uma diferenciação entre as exigências para as empresas de pequeno porte e as de grande porte.
Presenças
Também estiveram presentes à audiência pública no Espaço da Convergência a representante da Secretaria do Desenvolvimento Rural, Joice Timm; o representante da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento AGDI), Sérgio Kapron; a representante do reitor da Unisc, Mariza Christoff; o representante do Fórum Fome Zero, Reinaldo Santos; o representante da Emater, Henrique Dallmann, entre outros.